Monday, February 2, 2009

prepara ação

Quando o narrador empolgado acelera o ritmo da fala, aumenta o tom de voz e se prepara para gritar gol, é como uma dose de adrenalina penetrando nas veias da gente, subindo rapidamente ao cérebro. Dá um frio na espinha, a voz cala, as mãos cerram, os olhos arregalam e de repente toda essa cadeia se fecha num chute mal direcionado ou até pela bola na trave ou defesa do goleiro. A carga é tão grande que aquela emoção tem que ser colocada pra fora, sob pena de não termos outra chance de pedir desculpas ao cérebro pela emoção que preparamos, mas não aconteceu. Aí só há uma saída: o grito de “uuuuuuhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!”
Aí o “feladagaita” do narrador espoca: “Paaassa tirando tinta da trave!” ou então: “Saaaalva o goleiro em cima da linha!”. Como se a gente não soubesse o que aconteceu.
Mas essa emoção transmitida pela voz, no rádio, é que nos acalanta e dá a certeza de que outras chances virão.
Foi assim que me senti, no último sábado, aos 46 minutos do segundo tempo do jogo-treino entre o Araguaína e o Imperatriz, no estádio “Gauchão”.
Zero a zero. No último lance do jogo, depois da cobrança de escanteio e o corte parcial da zaga do Imperatriz, a bola cai próximo à marca do penalty, implorando para alguem chutá-la e levá-la de encontro a sua melhor amiga, a rede. André apareceu livre de marcação, ajeitou o corpo um pouquinho à esquerda pra não ter perigo de errar. Pisou firme com o pé esquerdo no chão e pegou a redonda com o meio do pé direito, de cheio. Eu e mais centenas de pessoas pulamos pra gritar gol e a pelota explodiu na trave. Um dos maiores narradores esportivos dessas bandas do Brasil, o experiente Marcelo Rodrigues(meu mestre) da Rádio Mirante de Imperatriz gritou: “Na traaaaave! Salva-se o Cavalo de Aço no último segundo de jogo.” Imediatamente ao lance o juiz terminou a partida e deixou em nossas mentes a lembrança de um jogo disputado debaixo de chuva. Acirrando a rivalidade entre os dois clubes de estados vizinhos que jogaram mais de noventa minutos buscando o gol. Era apenas um jogo de preparação das equipes que buscam se aperfeiçoar para a disputa dos campeonatos estaduais maranhense e tocantinense, mas, por trás da “amistosidade” do jogo existem anos e anos de disputas entre os dois times e ainda a vontade de cada torcida das cidades vizinhas(apesar dos 250 quilômetros de distância) zoar um pouco dos derrotados e dormir seguro de que seu time fará um bom campeonato.
Isso é, no caso do Araguaína, extremamente importante este ano, já que é o ano de inauguração do novo estádio, o “Mirandão” e começar ganhando um campeonato não é só mais um título, é história coroada de glória.
De repente as luzes se apagam e eu me lembro que aquele poderia ser o último jogo profissional do estádio “Gauchão”.
A gente merecia aquele gol!
Seria o desfecho apoteótico do local onde nasceu a lenda de um touro, no norte do Brasil, que tem o poder de emocionar milhares de pessoas, não só pela força e imponência, mas pela beleza do esporte que congrega, une, emociona, orgulha.
Valeu, Gauchão! Não serás esquecido, espero. Talvez daí mesmo apareçam, da base, os futuros craques que levarão o “Tourão do Norte” adiante.
Não vais ficar na história continuarás sendo parte dela. E, talvez a bola na trave no último minuto do último jogo da tua história seja pra que nunca esqueçamos as emoções que vivemos juntos.

Roberto Guerrero

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